Dados ImportantesAbertura: Jan/Nov/Dez 10.00-17.30. Fev-Mai/Out 10.00-18.30. Jun-Set 10.00-20.00
Visita Livra ou visita auto-guida com uma mapa. Os visitantes poderão permanecer durante todo o horário de abertura.
Visitas Guiada Geral: 11.00/12.30/14.30/16.00.
Visitas Guiada Temática: Minimo de 8 pax, máximo 30 pax.
Visitas Guiada Especializada: Minimo de 16 pax, máximo 30 pax.
Morada:Rua Barbosa du Bocage
2710 - 567 Sintra - Portugal
Telef.: 21 910 66 50
Fax: 21 924 47 25
E-mail: regaleira@mail.telepac.pt
A Quinta da RegaleiraSituada em pleno Centro Histórico de Sintra, e classificado Património Mundial pela UNESCO, a Quinta da Regaleira é um lugar com espírito próprio. Edificado nos primórdios de Século XX, ao sabor do ideário romântico, este fascinante conjunto de construções, nascendo abruptamente no meio da floresta luxuriante, é o resultado da concretização dos sonhos mitico-mágicos do seu principal proprietário, António Augusto Carvalho Monteiro (1848-1920), aliados ao talento do arquitecto-cenógrafo italiano Luigi Manini (1848-1936).
A imaginação destas duas personalidades invulgares concebeu, por um lado, o somatório revivalista das mais variadas correntes artísticas - com particular destaque para o gótico, o neo-manuelino e renascença - e, por outro, a glorificação da história nacional influenciada pelas tradições míticas e esotéricas. A Quinta da Regaleira é assim um fabuloso somatório de estilos e construções (jardins, poços, torres, lagos, estátuas, misteriosas grutas, etc.), onde Manini soube oferecer ao conjunto características excepcionais.
As origens da Quinta hoje denominada da Regaleira parecem reportar-se a 1697, quando José Leite adquiriu uma vasta porção de terra no termo da Vila de Sintra. Em 1715, a propriedade foi comprada, em hasta pública, por Francisco Alberto Guimarães de Castro, que canalizou água da Serra para alimentar uma fonte aí existente. Cedida a João António Lopes Fernandes, em 1800, surge-nos, trinta anos mais tarde, na posse de Manuel Bernardo, tendo então tomado a sua actual designação, porquanto era antes conhecida como Quinta da Torre, ou do Castro. Mais tarde, em 1840, foi adquirida pela filha de Allen, rico comerciante do Porto, que veio a receber o título de baronesa da Regaleira.
Porém, nos primórdios do presente século, a Regaleira foi comprada pelo capitalista António Augusto de Carvalho Monteiro, homem de vasta cultura e formado em Direito pela Universidade de Coimbra, cuja fortuna fora acumulada no Brasil. Carvalho Monteiro, profundo amante da gloriosa epopeia nacional, traduzida na época pelo gosto «revivalista» da arquitectura neo-manuelina, inspirou-se para a construção da sua mansão e respectiva capela, quer no ecletismo estrutural e decorativo da Pena, quer no assumido estilo neo-manuelino do hotel-palácio do Buçaco, este último da autoria de Luigi Manini. Assim, Carvalho Monteiro convidou o próprio Manini para projectar e edificar a casa da Regaleira, a qual veio a ser concluída em 1910.
Logo à entrada da Quinta, e rodeado de um luxuriante jardim, fica o Patamar dos Deuses. Aqui encontramos doze figuras da mitologia greco-romana que devem ser interpretadas como as doze Hierarquias Criadoras, representadas nos signos do zodíaco. Encontramos, também, a estátua de um leão, representação do sol que equivale na Alquimia ao Ouro. A estátua que esta mais próxima do Palácio é a de Mercúrio-Hermes, que aponta indisfarçadamente na sua direcção. Quererá esta estátua chamar apenas a atenção para o caracter filosofal ou hermético da Mansão ou, alem disso, indicar que nela era praticada, operativamente, a Arte de Hermes? Diremos apenas que em terrenos tão movediços como a interpretação da simbologia presente nos vários locais da Quinta, nos parece ser ponto assente que todo o conjunto está assente numa tripartição e concepção esotérica tri-unitária dos mundos subterrâneos (Terra-Mãe), intermédio (alquímico) e celeste (do Tempo e do Graal).
Apesar da diversidade de percursos que a Quinta da Regaleira oferece, todos os caminhos podem conduzir a um aglomerado de pedras erguidas, com a aparência de um menir, num dos locais mais belos da mata. E eis que uma curiosa porta de pedra roda impulsionada por um mecanismo oculto e nos faculta a entrada para outro mundo. É o monumental poço iniciático, espécie de torre invertida que mergulha nas profundezas da terra. A terra é o útero materno de onde provem a vida, mas também a sepultura para onde voltará. Muitos ritos de iniciação aludem a aspectos do nascimento e morte ligados à terra. A ideia principal parece ser pois a de morrer e voltar a nascer num rito de iniciação ligado à terra, sendo necessária uma descida ao «centro da Terra» para que o Homem se encontre, se «conheça a Si próprio» e seja iniciado nos Mistérios. Esta ideia, comum a todas as iniciações, é, neste caso de inspiração hermética e rosacruciana.
Talvez o local mais estranho sítio de toda a quinta, o Poço Iniciático tem 27 metros de profundidade. De quinze em quinze degraus se descem os nove patamares desta imensa galeria em espiral, sustentada por inúmeras colunas de apurado trabalho, que vão marcando o ritmo e o aprumo das escadarias. Os nove patamares circulares do poço, por onde se desce ao abismo da terra ou se sobe em direcção ao céu, consoante a natureza do percurso iniciático escolhido, lembram os nove círculos do Inferno, as nove secções do Purgatório e os nove céus do Paraíso, que o génio de Dante consagrou na Divina Comédia.
Os capitéis dos colunelos enrolam longas folhas de acanto. E lá no fundo, a carga dramática acentua-se. Gravada em embutidos de mármore, sobressai uma cruz templária, aliada a uma estrela de oito pontas, afinal o emblema heráldico de Carvalho Monteiro. Este é também o símbolo da Harmonia ou do sal harmoníaco na Alquimia, usado pela Cavalaria Espiritual na Maçonaria Escocesa. As galerias conduzem-nos, em autênticos labirintos, pelo mundo subterrâneo, aqui e além porventura povoado de morcegos. De construção artificial, na sua maioria, estas galerias aproveitam, no entanto, as características geológicas da mancha granítica da Serra de Sintra. No interior, a abóbada divide-se entre os maciços de rocha mãe, de um granito granular médio, geralmente de cor rosada ou parda, e zonas preenchidas com pedra importada da orla marítima da região de Peniche. É esta pedra, desgastada pelo mar e pelo tempo, que vai contribuir, sobremaneira, para a sugestão de um mundo submerso.
Ao chegarmos ao exterior, esperam-nos a luz e os cenários minuciosamente construídos. São animais fantásticos, artifícios de água em cascata, passagens de pedra que parecem flutuar à superfície dos lagos, ou nuvens silenciosas de vapor que dissimulam as entradas para este universo singular. Mais uma clara alusão ao facto de ser necessária uma descida ao «centro da Terra» para que o Homem se encontre e conheça a luz.
A simbólica alquímica parece estar presente em vários locais da Regaleira. Desde logo, na Capela, na pintura da Coroação de Maria por Cristo, na qual a Virgem ostenta, para além das três cores da Obra alquímica - o azul ou negro, o branco, o vermelho ou rubro - uma faixa dourada que poderá simbolizar o Ouro Alquímico. Entrando na capela, a nossa atenção prende-se também na imagem do Delta Radiante (também chamado de Delta Teúrgico ou "O Olho de deus"), com o olho de Deus sobreposto à cruz templária (emblema maçónico do Grande Arquitecto do Universo). Um pormenor interessante é que esta capela só foi aberta ao culto quando os D'Orey solicitaram a respectiva autorização ao Patriarcado, no pós-guerra.
Na capela são ainda visíveis diversas cruzes paleo-cristãs, Templárias e de Cristo , sendo eloquente na elucidação do mistério da cruz de oito pontas a disposição relativa das duas primeiras (uma em diagonal com a outra) e de cuja sobreposição ela nascera. Já dissemos atras que a cruz de oito pontas é o emblema da Cavalaria Espiritual do Escocismo Templário, cavalaria solar que persegue o «servidor fugitivo», segundo a Cabala fonética, o veado ou gamo inquieto e fugidio (o Mercúrio Filosofal) que parece escapar-se a D. Fuas Roupinho (ele próprio Templário) num vitral que, na capela, evoca essa interessante lenda.
No chão, estão varias estrelas de cinco pontas pentagramas, símbolo do Homem e do Microcosmos e, descendo uma escada para a cripta, deparamos com uma porta de ferro contendo diversos sinais, dos quais se destacam um pentagrama e espirais. A cripta apresenta um altar debaixo do altar, vendo-se no chão um ladrilhado de quadrados alternadamente brancos e pretos, lembrando o «Beaucéant» (o estandarte Templário), cujo significado andrógino é evidente, pois contém o luminoso e o obscuro, o masculino e o feminino.
Nas traseiras da capela esta um alto relevo representando um castelo com duas torres, separado de uma guela aberta, subjacente, por uma zona de labaredas. Trata-se claramente de um «athanor», ou tomo alquímico, onde mais uma vez está representada a concepção tradicional dos três mundos: o mundo subterrâneo ou infernal, o mundo intermédio do «fogo secreto» (o fogo do «coração») e o mundo superior da Cavalaria Espiritual.
Nas cocheiras, sinais de Alquimia voltam a estar presentes, em duas esculturas que formam símbolos clássicos da Arte de Hermes: a serpente que morde a cauda, simbolizando a Unidade, origem e fim da Obra, e a luta entre as duas naturezas, aqui representada por dois dragões, cada um mordendo a cauda do outro.
Igualmente susceptível de uma leitura alquímica é a gruta ogival, onde Leda, segurando uma pomba na mão, aparece numa escultura à beira de um pequeno lago, enquanto Zeus, disfarçado de cisne, a fecunda bicando-a na perna: O cisne (que curiosamente também figura no brasão dos carvalhos) e habitualmente associado ao Mercúrio por ser branco e móvel mas, neste contexto, ele é a ave solar que acompanhava o deus Apolo nas suas viagens hiperbóreas. Trata-se de uma alegoria pagã ao mito (ou mistério) da Imaculada Conceição (ou concepção) que decorre num lugar escuro e húmido. De acordo com uma Tradição Iniciática, o cisne e o seu canto têm também o poder de transmitir ao iniciado o conhecimento da "língua dos pássaros", através da qual se tem acesso à Sabedoria e à Imortalidade. No topo da gruta vemos fixado um poderoso gancho apto a sustentar um considerável peso, eventualmente um candelabro. Os mais imaginativos verão, dependurado nesse gancho um «pêndulo de Foucault», cujo piano de oscilação, abandonando a terra e os planetas do nosso sistema solar, se inclina para longínquas galáxias cuja soma das massas representa quase totalidade da mataria do universo observável.
Da capela passamoa para a Torre da Regaleira, a qual inicialmente deu o nome à quinta que se chamava Quinta da Torre. Sem provas, diz-se que era na torre que se fazia a selecção à Tradição Iniciática. O percurso teria o seu fim na capela onde o iniciado era aceite. A torre, lembrando um zigurate, assemelha-se a um observatório astronómico, que não deixa de ser interessante por se contrapor ao mundo subterrâneo (visto que uma das saídas do Poço Iniciático leva-nos à torre), segundo o adágio alquímico. De facto, a Alquimia é muitas vezes designada de «física subterrânea» e também de «astronomia inferior» («post tenebras lux», segundo o adágio alquímico).
Finalmente, temos o palácio dos milhões, que é também de uma beleza extraordinária e de um simbolismo incrível. Desde a pintura de um dos tectos da mansão representando os três pilares da Maçonaria Universal (a Força que suporta os seus trabalhos, a Sabedoria que os ilumina e a Beleza que os coroa),às pinturas das paredes da sala de jantar (com azevinhos, planta da Natividade, entrecortados por Cruzes do Santo Graal), aos painéis de vinte reis e quatro rainhas, desde D. Afonso Henriques a Dona Isabel, D. Afonso V Rei Alquimista a D. Sebastião, numa invocação à lenda de restaurar em Portugal grandeza de outros tempos, até terminar em D. José (de reparar no pormenor de os três Filipes de Espanha não se apresentarem coroados). Esta sala tem, ainda, dois brasões com traços esotéricos como o Graal de onde sai a Virgem.
Em jeito de conclusão, podemos dizer que para conhecer a Quinta da Regaleira ha que visitá-la. Contemplar a cenografia dos jardins e das edificações, admirar o Palácio dos Milhões, verdadeira mansão filosofal de inspiração alquímica, percorrer o parque exótico, sentir a espiritualidade crisã na Capela da Santíssima Trinidade, que nos permite descermos à cripta onde se recorda com emoção o simbolismo e a presença do além. Há ainda um fabuloso conjunto de torreões que oferecem paisagens deslumbrantes, recantos estranhos feitos de lenda e saudade, vivendas apalaçadas de gosto requintado, terraços dispostos para apreciação do mundo celeste.
Aculminar a visita à Quinta da Relageira, há que invocar a aventura dos Cavaleiros Templários, ou os ideais dos mestres da Maçonaria, para descer ao monumental poço iniciático por uma imensa escadaria em espiral. E, lá no fundo, com os pés assentes numa estrela de oito pontas, é como se estivéssemos imersos no ventre da Terra-Mãe. Depois, só nos resta atravessar as trevas das grutas labirínticas, até ganharmos a luz, reflectida am lagos surpreendentes.
Simbolismo na Quinta da Regaleira«Pastiche do manuelino» ou «revivalismo serôdio», são alguns dos epítetos com que o conjunto da Quinta da Regaleira tem sido brindado pelos historiadores de Arte, desde os começos deste século. Curiosamente, algo de parecido também se dizia do Palácio da Pena e hoje já pouca gente tem a coragem de o dizer, pois compreende-se melhor agora a criação de D. Fernando II e dos seus arquitectos. Cremos que o que tem faltado na apreciação da Regaleira é isso mesmo: a compreensão do objecto em estudo. Embora aparentando um verdadeiro cenário de ópera, a Quinta da Regaleira é muito mais um percurso alquimico e sagrado que importa conhecer, tendo no entanto que ter em conta as dificuldades que se levantam quando pessoas sem qualquer preparação se aventuram no oculto, no isotérico, tentando separar aquilo que parece ser certo daquilo que é ou parece ser charlatanice. Deve recordar-se aqui a plurivalência dos símbolos, pelo que eles nunca deverão ser interpretados mecanicamente com o auxílio de um dicionário, mas sim, e apenas, dentro do contexto em que estão inseridos.
Chama-se esotérico a um conhecimento oculto, seja doutrina ou técnica de expressão simbólica, reservado aos iniciados. O esoterismo é, pois, o conjunto de práticas e de ensinamentos esotéricos, no contexto de uma tradição multifacetada que abrange diferentes épocas, lugares e culturas. A Alquimia, a Maçonaria e os Templários, por exemplo, incorporam teorias, rituais e procedimentos herméticos que se integram no âmbito do esoterismo.
Parece evidente que a concepção religiosa do mundo que preside à Regaleira assenta no Cristianismo, mas num Cristianismo escatológico, que tem a ver com o fim dos tempos. Quer recorramos à lição da escatologia cósmica, que prenuncia o fim do universo e da humanidade, quer nos atenhamos à escatologia individual, que assenta na crença da sobrevivência da alma depois da morte, é a mesma ideia obsessiva que encontramos. É também um Cristianismo gnóstico, apoiado em discursos míticos e em conhecimentos sagrados que prometem a salvação dos fiéis e o retorno dos espíritos. É, enfim, um Cristianismo imbuído de ideais neo-templários, associados ao Culto do Espírito Santo, que encontramos na tradição mítica portuguesa.
Os templários foram monges-soldados, cuja ordem militar, fundada no período das Cruzadas em 1119, visava proteger os lugares santos da Palestina contra o perigo dos infiéis. Os votos de pobreza e castidade não impediram os Cavaleiros da Milícia do Templo de enriquecer e de desempenhar um importante papel económico e político, tanto no Oriente como na Europa, a ponto de criarem poderosos inimigos, como o rei Filipe IV de França e o Papa Clemente V, que levaram à perseguição e à extinção da ordem em 1314, sob acusações, porventura falsas, de blasfémia e imoralidade. Em 1317, D. Dinis de Portugal afectou os bens dos templários à Ordem de Cristo, que muitos aceitaram como sua sucessora.
Desaparecidos os templários não desapareceu o templarismo, cujo espírito, resumido na defesa dos lugares sagrados e na luta contra o mal, renasceu em várias correntes e organizações iniciáticas como sendo a afirmação simbólica da sobrevivência da Ordem do Templo. A cruz templária no fundo do poço iniciático, a cruz da Ordem de Cristo no pavimento da Capela, bem como todas as outras cruzes dispostas na Capela, testemunham a influência do templarismo no ideário sincrético de Carvalho Monteiro.
Na tipologia do misticismo judaico, firmado na procura de Deus e na experiência da divindade, o esoterismo baseia-se, fundamentalmente, na lei das correspondências, que visa encontrar, através do recurso à analogia, relações simbólicas entre o divino e o terreno, entre o transcendente e o imanente, entre o visível e o invisível, entre o homem e o universo. A passagem de uma a outra dimensão opera-se em cerimónias de iniciação, por meio de encenações e rituais de carácter mágico, nos quais o neófito recebe o segredo da transmutação, aceita a filiação no grupo de companheiros e acede a um nível espiritual superior.
A Franco-Maçonaria antiga, dita operativa, deriva das confrarias, das corporações, dos agrupamentos profissionais de pedreiros livres e dos construtores das catedrais medievais. À defesa dos interesses profissionais, juntavam os franco-mações preocupações de carácter filantrópico, moral e religioso. Os grupos maçónicos, organizados em sociedades secretas e reunindo em lojas, foram perdendo o carácter exclusivamente operativo e começaram a aceitar membros estranhos à profissão mas que perfilhavam os mesmos ideais iniciáticos.
O declínio das confrarias origina, por filiação directa, o aparecimento em 1717, em Inglaterra, da Maçonaria moderna, dita especulativa, uma vez que já não existe ligação à prática do oficio de construção, tendo utensílios como o esquadro e o compasso adquirido um valor eminentemente simbólico.
A Maçonaria provocou, praticamente desde o início, a oposição da Igreja Católica, embora muitos dos ensinamentos maçónicos, de inspiração cristã, preconizem a crença nas virtudes da caridade, na imortalidade da alma e na existência de um princípio espiritual superior denominado Grande Arquitecto do Universo. Grande parte da simbologia maçónica, sobretudo a dos altos graus, inspira-se em correntes esotéricas tais como a alquimia, o templarismo e o rosacrucianismo, inscritas em diversos locais da Regaleira.
A indicação mais transparente de uma inspiração ou mesmo de uma filiação esotérica por parte de Carvalho Monteiro é a pintura de um dos tectos da Mansão que figurando, ao que parece, as Ilhas do proprietário representa ao mesmo tempo as imagens dos três pilares de Maçonaria Simbólica: a Força que sustenta os seus trabalhos, a Sabedoria que os ilumina e a Beleza que os coroa. Esta pintura põe, desde logo, o problema de indagarmos de que Maçonaria se trata, pois como se sabe existiram (e ainda existem) muitos Ritos e Obediências, para além de uma estrutura comum assente nos três primeiros graus e que é denominada de Maçonaria azul, simbólica ou de S. João. Não queremos com isto dizer que carvalho Monteiro, seu pai e o Manini fossem necessariamente maçons embora eles se movimentassem em círculos maçónicos o que, diga-se de passagem, seria difícil não deixar de acontecer em Portugal, desde os anos vinte do século passado até aos deste século. No entanto, é claro que, mesmo sem uma filiação maçónica regular, teria de existir por parte do proprietário, mais do que uma complacência em relação a Maçonaria, uma declarada simpatia; de facto, não seria admissível que o Manini pintasse Os três pilares da Ordem, numa pintura de significado tão transparente, se o proprietário da casa não desse o seu aval (o mesmo se passa com tudo o resto: poços, etc.) Carvalho Monteiro era um homem de cultura e não um ignorante. Mais ainda, eram das relações de Carvalho Monteiro maçons como o Barão de Quintela, o Duque de Lafões e, sobretudo D. Fernando II ; este último foi Presidente do Jardim Zoológico quando Mendes Monteiro era Presidente da Assembleia Geral e seu filho, Carvalho Monteiro, membro da Direcção. No Portugal do sec. XIX, a Maçonaria contou nas suas fileiras com um Rei (D. Pedro IV), um príncipe (D. Fernando II), um cardeal (Patriarca de Lisboa), vários arcebispos (de Évora, de Elvas, de Angra), e destacados elementos da aristocracia e da burguesia. Curioso, é também o facto de no jazigo de Carvalho Monteiro, onde de resto há cruzes de oito pontas e uma cruz com a rosa no meio, estar depositado o corpo de uma senhora de apelido Daun e Lorena. Ora, a alemã com quem o futuro Marquês de Pombal casou quando era embaixador em Londres, era a condessa de von Daun, avó de José de Sampaio Lusignan que foi primeiro Grão-Mestre da Maçonaria portuguesa. Outra curiosidade interessante, relacionada com este propósito, é o poema "S João" de Fernando Pessoa, no qual se dirige ao patrono da Maçonaria simbólica (e, também, da «Igreja interior»...): «se és maçon, sou mais do maçon... eu sou templário (...) meu irmão, dou-te o meu abraço fraternal». Note-se que o poeta, que andava pelos caminhos do Templarismo, do rosacrucianismo e da Alquimia, e que possuía na sua biblioteca um dos poucos exemplares conhecidos da «ENNOEA» (um famoso tratado alquímico escrito por Anselmo Caetano Castelo Branco, colega de Carvalho Monteiro na Faculdade de Direito de Coimbra) não diz que não é maçon, mas que é mais do que maçon: é Templário, ao mesmo tempo que utiliza a expressão maçónica do «abraço fraternal» e chama a S. João «meu irmão».
A alquimia é outro dos simbolismos importantes presentes na Quinta da Regaleira, tendo por objectivo a transmutação real ou simbólica dos metais em ouro e por fim último a salvação da alma. As operações alquímicas são realizadas num Atanor, ou seja, num forno alquímico de combustão lenta, com um cadinho e um balão nos quais se pretende espiritualizar a matéria e materializar o espírito. Este propósito essencial da Alquimia operativa, executada em laboratório, é a obtenção da Pedra Filosofal, simbiose entre matéria e espírito, da qual poderia resultar, segundo os alquimistas, além da transmutação dos metais em ouro, a realização de um dos desejos ancestrais da humanidade: o elixir da longa vida, capaz de proporcionar saúde e eterna juventude. Neste sentido, há quem considere a procura alquímica como uma metáfora da condição humana. A Alquimia assumiu, depois do século XVIII, um carácter manifestamente religioso, dedicando-se sobretudo ao estudo das relações espirituais e energéticas entre o homem (microcosmo) e o universo (macrocosmo). A partir de um trabalho erudito de equivalências e analogias, aceita-se que o universo nos engloba e nos interpela num só movimento existencial - ele é ao mesmo tempo transcendência (Outro) e nós próprios.
Há ainda, na Regaleira, referências rosacrucianas, em alusão à corrente esotérica iniciada no séc. XVII, de tendência cristã, utilizando os símbolos conjuntos da rosa e da cruz. O movimento Rosa-Cruz propunha reformas sociais e religiosas, exaltava a humildade, a justiça, a verdade e a castidade, apelando à cura de todas as doenças do corpo e da alma. Tornou-se grau maçónico de várias Ordens e, ainda hoje, existem escolas esotéricas e sociedades secretas que pretendem assumir-se como reaparições do mito Rosa-Cruz.
Em jeito de conclusão, acredita-se que o culto praticado na Quinta da Regaleira seria o do SANTO GRAAL. Os cavaleiros juravam (e juram) proteger o segredo do Santo Graal a todo o custo e fazem a ligação iniciática templária entre o Ocidente e o Oriente. Na Maçonaria existe algo semelhante apesar de o seu fundo ser mais social do que espiritual.